João Pedro Caupers
Descerramento do retrato a óleo do Presidente João Pedro Caupers
15 de dezembro de 2023
Tribunal Constitucional
Um retrato é sempre suscetível de dois olhares: há os que vêem nele o retratado e os que vêem nele o retratista. Mas o retrato resulta necessariamente de um diálogo entre quem vê e quem é visto. Do olhar de quem é retratado pode dizer-se o mesmo que se diz das autobiografias: o autor não se vê como é, mas como gostava de ser visto ou como receia ser visto.
O olhar do artista é muito mais importante. E o olhar do João tem tudo a ver comigo. Terá sido influenciado pelas conversas que tivemos. Seguramente por isso, o fundo do retrato é essencialmente composto por vultos de pessoas e por palavras, num contexto profundamente humano, que reflete, muito mais do que qualquer cenário físico, aquilo que mais me interessou no Tribunal e a minha principal arma.
Até a luz - crua e dura, nada de penumbras receosas nem de sombras intrigantes, ou não tivesse a imagem sido colhida, sob sol intenso, junto à janela mais próxima - tem a ver comigo: prefiro a franqueza do sol à dissimulação da obscuridade.
Dito isto, ter o quadro pendurado na parede do Tribunal corresponde a uma tradição e concretiza uma homenagem generosa, pela qual só posso estar grato. Mas não gostaria que tivesse o significado de um epitáfio. Das coisas que fiz - que fizemos, todos quantos aqui trabalharam durante os nove anos em que por aqui andei - a menos interessante terá sido mesmo ser retratado, muito embora o João tenha tornado essa tarefa breve e agradável. Recordarem-se de mim por uma ação na voz passiva seria deprimente.
A resposta à pandemia, com o alargamento extraordinário das possibilidades de tele-trabalho, a melhoria da imagem, da comunicação e da presença internacional do Tribunal, a celebração condigna do dos 40 anos do Tribunal, os trabalhos de beneficiação de instalações degradadas (4.ª Secção e motoristas), o início da renovação da frota automóvel, foram alguns aspetos em que me empenhei. As minhas principais mágoas são não ter conseguido a revisão do diploma que regula os serviços do Tribunal, nem ter podido resolver o problema da cantina.
Houve momentos bons e momentos maus, claro. Muito mais, os bons, em todo o caso.
Os amigos que aqui fiz, não os deixei, nem deixarei. Continuarei a tê-los comigo, se não presencialmente, pelo menos naquele espaço ameno e confortável da memória que me acompanhará, espero, até ao fim da minha vida.